sábado, janeiro 17, 2009

A sociedade e as relações

Praticamente um ano e meio depois tive uma vontade enorme de voltar aqui a escrever.
Algo súbito, com uma força enorme.
Volto ao temas das relações em sociedade, das amizades, de como socializamos.

Quinta-feira acabei um telefonema de cortesia de um amigo a discutir como vejo as relações de amizade de maneira diferente de toda a gente.
Dizia-me esse amigo, que tem amigos a quem apenas ligava ocasionalmente, espaçado de largos meses, e muitas vezes apenas para pedir favores, e não sentia que essa amizade fosse inferior às com mais contacto.

Não pude deixar e dizer que que não vejo as coisas desse modo, e tal como um amor à distância, uma amizade "à distância" simplesmente não é amizade, é algo efémero, vazio de conteúdo.

Estaria longe de imaginar como dois dias depois acabaria por sentir como tenho razão.
É impossível uma relação em que não haja uma dádiva do maior bem dos nossos dias, o tempo.
Nesta era andamos todos ocupados. A família, o trabalho ocupam praticamente todo o nosso bem mais precioso, e a gestão do mesmo torna-se algo delicado, obrigando a muitas escolhas.

Este ano que findou dei todo o apoio que tinha e soube a um amigo que se divorciou. Não olhei a tempo, a telefonemas, a apoio. Senti-me bem. Apesar da situação ser extremamente delicada, não há nada como dar sem esperar nada em troca.
Ele ultrapassou a situação, fiz o que pude. Ele sabe-o.

Este inicio de 2009, acabou por acontecer o mesmo com alguém igualmente próximo.
É incrível como o infortúnio aproxima as pessoas, e como nestas horas se vê realmente quem são os nossos amigos.
É gratificante sabe-lo, e igualmente ouvi-lo.

Refiro o ouvi-lo, pq nos dias de hoje parece que é uma vergonha abrir a nossa vida a alguém.
Parece q o mundo faz questão de q nos viremos para nós próprios e não confiemos em ninguém.

Sem dúvida que é mais seguro vivermos numa concha, mostrarmos uma imagem de firmeza que não temos, irradiarmos certezas que não possuímos.
O reverso da medalha é que ficamos sós. Ninguém nos conhece, conhecem a imagem que projectamos, algo que não existe.
É a sociedade do cinismo, do libertar o mínimo de informação sobre nós próprios, de que o cônjuge e os filhos estão num patamar infinitamente superior ao resto do mundo.

Estão acima claro. Mas viver fechado sobre a própria casa, é tão mau como viver sobre o próprio corpo.
O homem é um ser universal, cresce quando contacta, e o espírito é tão importante como a mente.
Claro que tudo isso é desvalorizado. A cultura de tv, talvez o único "amigo" que entra em casa e influência a família, é uma cultura de imagem, de sucesso.
Não há lugar para insucessos, para a vergonha de assumir que se falha.
E isso só se consegue fugindo.
Pois quem nos conhece verdadeiramente, sabe que somos humanos, sabe que erramos.

E quando erramos, quando caímos, aí é que vemos quem está ao lado para nos ajudar a erguer.
Ali ao lado, não longe...

NFL

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